Por: Emanuel Oliveira. Desde que iniciei os trabalhos com vista à conclusão do doutoramento na Universidade de Santiago de Compostela (Esp...
Por: Emanuel Oliveira.
Desde que iniciei os trabalhos com vista à conclusão do doutoramento na Universidade de Santiago de Compostela (Espanha), a minha atividade neste blogue ficou claramente congelada. Agora, uma vez concluído este processo de investigação que levou alguns anos da minha vida, retomo o trabalho de redação, com o fim de promover e divulgar as diversas temáticas relacionadas com o mundo dos fogos florestais. Sendo assim, reiniciarei a minha atividade no blog divulgando o trabalho desenvolvido na minha tese - Enquadramento do uso tradicional do fogo em Portugal e estudo de caso - incluindo o regime de fogo - do Alto Minho.
Pode dizer-se que iniciei o processo de investigação a partir de uma posição baseada na minha experiência como técnico no terreno, no uso institucional do fogo, também conhecido como fogo controlado, e na prevenção e combate aos incêndios florestais. Embora a experiência seja uma parte fundamental, especialmente nas muitas questões que se colocam, o conhecimento científico é essencial para encontrar as respostas de uma forma fundamentada. Assim, os principais motivos que despoletaram a vontade de escrever esta tese foram, sobretudo, continuar os meus estudos dedicados aos fogos florestais e também procurar respostas para questões relacionadas com o impacte dos grandes incêndios, cada vez mais recorrentes e de maiores dimensões.
Refém da minha experiência com os incêndios, desde uma perspetiva de quem vive e trabalha num território que arde muito, tanto à escala regional como nacional, a abordagem inicial na elaboração desta tese baseou-se no impacto dos grandes incêndios florestais na região do Alto Minho, com enfoque nos incêndios florestais como problema.
Focos de Calor (sensores MODIS e VIIRS) entre 2001 e 2022 e destaque da região de estudo de caso - Alto Minho |
À medida que a investigação foi avançando, a minha perceção dos grandes incêndios foi-se alterando. Esta mudança deveu-se principalmente ao período de trabalho de investigação dedicado ao mapeamento e classificação dos fogos florestais que afetaram o Alto Minho. Uma vez concluído este trabalho, o processo de classificação levou-me a investigar os usos ancestrais do fogo através da recolha e leitura de documentos históricos, manuscritos e legislação. Esta fase da investigação, motivada também pela minha experiência de campo com comunidades tradicionais e indígenas, levou-me a procurar o uso do fogo nativo em Portugal, pelo que só em documentos históricos se pode identificar e recuperar informação sobre técnicas e práticas ancestrais das comunidades do passado. Esta foi uma tarefa fundamental, que me permitiu alargar a visão e compreender a evolução do uso do fogo no território português, bem como a relação com os grandes incêndios florestais. Estes grandes incêndios são, no fundo, uma consequência e não o problema.
A grande quantidade de informação e o detalhe dos dados obtidos tornaram a investigação numa abordagem holística de todos os fogos florestais que se propagaram de diferentes formas na paisagem do Alto Minho.
Fruto dos diversificados trabalhos de investigação e dos diferentes produtos obtidos, a tese foi estruturada como compêndio de artigos, dividindo-se em duas partes que somam um total seis capítulos que reproduzem na íntegra os respetivos artigos publicados. A 1ª Parte, dedicada ao uso tradicional do fogo é composta por três capítulos resultantes da análise documental histórica e legislativa e dos dados de incidentes obtidos. O seu conteúdo é transversal a todo o território nacional.
Capítulos da Parte I da Tese |
A 2ª Parte, dedicada ao estudo de caso – região do Alto Minho - é igualmente composta por três capítulos que resultam integralmente do trabalho de mapeamento detalhado das áreas afetadas por fogos e da sua classificação na região.
Capítulos da Parte II da Tese |
Os produtos obtidos e materializados em artigos científicos foi possível graças aos investigadores que participaram no tratamento e análise dos resultados, na redação e revisão científica. O seu compromisso, profissionalismo, dedicação e empenho foram determinantes em todo o processo de investigação, pelo que deixo o meu agradecimento, começando pelos meus diretores - Prof. David Miranda, da Universidade de Santiago de Compostela, ao Prof. Paulo Fernandes da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro - e aos meus dedicados colegas que muito me apoiaram – Conceição Colaço e Catarina Sequeira, ambas investigadoras do Centro de Ecologia Aplicada Baeta Neves – Instituto Superior de Agronomia da Universidade de Lisboa, Nuno Gracinhas Guiomar, investigador do Instituto Mediterrâneo para a Agricultura, Ambiente e Desenvolvimento da Universidade de Évora e Raquel Lobo-do-Vale do Centro de Estudos Florestais do Instituto Superior de Agronomia da Universidade de Lisboa.