Por: Emanuel Oliveira Com a chegada do verão meteorológico (1 de junho, pois o verão astronómico inicia a 21 de junho) começam as preocupaçõ...
Por: Emanuel Oliveira
Com a chegada do verão meteorológico (1 de junho, pois o verão astronómico inicia a 21 de junho) começam as preocupações relacionadas com os incêndios florestais. Parece existir no país uma época em que se fala de incêndios e de floresta e outra época em que se esquece os incêndios e a floresta. Na realidade, o ideal seria recordar a cada dia a floresta, pois certamente os incêndios não teriam um impacto tão negativo. No entanto, parece que apenas se fala da floresta quando esta arde.
Centremo-nos, pois, no tema deste post para procurar entender o que podemos esperar em relação aos incêndios florestais neste período que se avizinha. Primeiro, antes de tudo, é necessário entender que uma época de incêndios não é determinada apenas pela resposta à emergência, isto é, exclusivamente assegurada pelos meios e recursos disponíveis para o combate e extinção dos incêndios. Não é pelo país ter mais meios aéreos ou mais recursos humanos afetos ao combate que se evitam os grandes incêndios florestais (GIF).
Existem vários fatores determinantes para o "sucesso" da época, em particular a evolução climática e a meteorologia que por um lado condicionam o estado dos combustíveis e por outro, determinam o comportamento e a propagação do fogo em caso de ocorrência. Do mesmo modo, um fator de peso, prende-se com o uso do fogo e de comportamentos de risco por parte da população, assim como o número e a simultaneidade de ocorrências que podem ditar o colapso do dispositivo. Sem menosprezar os demais fatores, a evolução climática, as condições meteorológicas e a evolução do estado dos combustíveis devem ser alvo de análise contínua, com o fim de apoiar a tomada de decisão na prevenção e na distribuição dos recursos e meios do dispositivo nacional.
Fig. 1 - Evolução da precipitação anual entre 1 de janeiro a 31 de dezembro, no período de 2001 a 2020. |
Analisando a precipitação (CHIRPS Pentad) em relação à média de 2001 a 2020 podemos observar que os anos com maiores desvios negativos de precipitação foram 2004, 2005, 2015 e 2017. Sendo também estes anos aqueles que registam o maior número de incêndios e de área ardida.
Importa recordar que a quantidade de precipitação e o número de dias de chuva antecedendo o verão, afetam a extensão e severidade dos incêndios nesta época mais vulnerável (Holden et al., 2018, 2012). No territórios com clima húmido e temperado, os incêndios são condicionados por um período antecedente de anomalias negativas, de menor precipitação e de redução considerável da humidade do solo.
Em relação ao ano em curso e considerando os registos da precipitação da Figura 2 observa-se que o mês de fevereiro registou valores superiores ao valor normal, enquanto que os meses de janeiro e março apresentaram valores abaixo do normal.
Já o mês de abril, segundo o Boletim Meteorológico de Abril, publicado pelo IPMA, “foi muito próximo do valor normal 1971- 2000 com um desvio de +3.6 mm”.
Figura 3 - Anomalias da quantidade de precipitação, no mês de abril, em Portugal continental, em relação aos valores médios no período 1971-2000. Fonte: Boletim Climatológico Abril 2021. IPMA |
Igualmente, segundo o IPMA, o mês de abril apresentou cerca de 11,9% do território em seca fraca (distrito de Faro) e 7,6% em seca moderada (distritos de Setúbal, Beja e Évora).
A última publicação do Centro Europeu de Previsões Meteorológicas de Médio Prazo (ECMWF) para o dia 17 de junho (Figura 4), indica uma redução da humidade no solo, porém ainda sem grande impacto na vegetação. Também os registos dos últimos dias (Figura 5) referentes à humidade no solo a 10 cm e à humidade do solo na zona das raízes, encontram-se em linha de tendência para a época, ou seja, a perder humidade.
Figura 4 - Humidade no solo prevista para 17 de junho de 2021. Fonte: ECMWF |
Figura 5 - Evolução da humidade no solo a 10 cm e da humidade do solo na zona das raízes entre o dia 1 de janeiro a 7 de maio de 2021. (GLDAS) |
Estas condições que antecedem o período estival e aquelas que se farão sentir nas próximas semanas são determinantes na evolução fenológica da vegetação, podendo incrementar ou reduzir a disponibilidade dos combustíveis em relação ao fogo.
Figura 6 - Evolução do índice vegetativo VHI para a semana 22 no período de 2017 a 2021. Fonte: NOAA |
Figura 7 - Modelo probabilístico de precipitação para os períodos de junho-julho-agosto e agosto-setembro-outubro de 2021. Fonte: IR - Columbia University |
Figura 7 - Modelo probabilístico da temperatura para o período de junho-julho-agosto de 2021. Fonte: IR - Columbia University |
Quanto às temperaturas poderão registar-se anormalmente mais elevadas nestas regiões, ainda que na região Sul fiquem por valores médios máximos. Segundo a Meteored, o calor durante as próximos meses poderá ser sufocante, podendo ocorrer a entrada de ar tropical continental procedente de África, somando-se ao calor próprio produzido pela Península Ibérica pelo que poderiam produzir ondas de calor intensas com uma duração algo mais extensa que o normal. Estas condições permitirão preparar os combustíveis, cujo impacto será maior quanto maior a severidade meteorológica.
Dadas as condições climatéricas passadas, presentes e as prováveis, as situações de maior risco e de maior complexidade em caso de incêndios poderão incidir nos distritos de Faro, Santarém, Castelo Branco, Guarda e Vila Real. Obviamente que a ocorrência de incêndios dependerá do comportamento da população em relação ao uso de fontes de ignição e da evolução da situação meteorológica.
COMMENTS