A solução ao SIRESP? A resposta poderá vir dos céus…

 Por: Emanuel Oliveira Ultimamente temos assistido às voltas e reviravoltas do badalado “SIRESP”, um sistema de comunicações de emergência q...

 Por: Emanuel Oliveira



Ultimamente temos assistido às voltas e reviravoltas do badalado “SIRESP”, um sistema de comunicações de emergência que passou a ser mais conhecido pela população em geral a partir do fatídico incêndio de Pedrógão Grande em 2017. E não pelas melhores razões, mas pelas diversas falhas constatadas por todos os operacionais envolvidos nos incêndios daquele ano que levaram à morte de mais de uma centena de civis, o que demonstrou a fragilidade de um sistema que deveria de garantir algo tão essencial na emergência como são as comunicações. Todos nós que trabalhamos nos fogos florestais conhecemos o protocolo internacional de segurança LACES, com origem nos EUA, sendo a abreviatura de várias palavras de origem inglesa que o definem:

L Lookout (Observar)

A Anchor points (zonas de ancoragem)

CCommunications (comunicações)

E Escape route (caminhos de fuga)

SSafety Zone (zona de segurança)

Sem dúvida as comunicações são essenciais em incêndios florestais como em qualquer situação de emergência e defesa.

Atualmente o mediatismo está nos elevados custos do sistema e da sua continuidade mediante a Parceria Público-Privada (PPP) da rede de comunicações do Estado SIRESP, a qual finda a 30 de junho deste ano. Sendo assim, importa que o país pense no futuro e como garantir comunicações que não fiquem tão vulneráveis a impactos de desastres, tal como ocorreu nos incêndios de 2017.

Em 2005, no âmbito do Estudo Técnico do Plano Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, na Ficha dedicada às Telecomunicações (Voz e Dados) referia-se o seguinte em relação ao SIRESP:

“Porque as tecnologias sofrem permanentes actualizações (5 anos passaram desde o início do estudo), pode considerar-se que os princípios tecnológicos em que está arquitectado e proposto o sistema SIRESP (TETRA v.1 ou equivalente) não respondem às verdadeiras e actuais necessidades das Entidades de DFCI, especialmente no que diz respeito à velocidade de transmissão de dados (SIRESP só 19,2Kbps) que se cifram no mínimo em 64kbps [18].”

Deixando para trás o polémico SIRESP, é importante perceber que as comunicações por rádio nas bandas altas ou as atuais que combinam DMR (Digital Radio Mondiale), TETRA (Terrestrial Trunked Radio), LTE (Long Term Evolution) e Wi-Fi são fundamentais em situações de emergência para os agentes de proteção civil e defesa, cuja comunicação entre os centros de comando e operações, postos de comando e meios no terreno são garantidas mediante repetidores fixos e antenas móveis. No caso dos aparelhos se encontrarem em terrenos de relevo complexo e muito distantes de repetidores (distâncias superiores a 20 km), ou existindo a falta de antenas móveis ou as infraestruturas de comunicação se encontrarem danificadas ou inoperacionais (por exemplo por incêndios e consequentes cortes de corrente), a solução poderá estar nos céus.

Imagem do site celestrak

As comunicações por via satélite, cada vez mais potentes e simplificadas, podem garantir a conexão sem interrupções entre os operacionais e postos e centros de comandos e operações, não ficando à mercê das vulnerabilidades.

O projeto Starlink da empresa SpaceX, do famoso excêntrico Elon Musk, usará uma constelação de cerca de 12 mil pequenos satélites numa órbita de 550 km que permitirão reforçar as comunicações e garantir uma conexão de internet de grande qualidade e de elevada velocidade em qualquer ponto do planeta (no pedido de autorização à homóloga da ANACOM nos EUA, a FCC, indicava uma velocidade 1 Gigabit por segundo). Atualmente já se encontram em órbita cerca de 1 500 satélites. Igualmente, a empresa Starlink pretende avançar com serviços telefónicos a partir da sua própria rede, pelo que solicitou à FCC (Federal Communications Commission) a sua certificação como operadora de telecomunicações.

Mais de 30 satélites Starlink alinhados nos céus do estado de São Paulo - Brasil. Fonte da Imagem: https://www.visaonoticias.com/

Quando digo que a resposta ao problema das comunicações poderá estar nos céus, refiro-me precisamente às experiências da Starlink com agentes da proteção civil e emergência dos EUA, em particular em zonas remotas onde as comunicações são realmente difíceis. The Verge publicou em setembro um artigo cujo título é “Sistema Starlink de internet do espaço, da SpaceX, ajuda os bombeiros a combater incêndios em Washington”. Segundo Steven Friedrich, porta-voz da Washington Emergency Management Division refere no artigo que o sistema Starlink tem sido ótimo para garantir a comunicação numa área atingida por grandes incêndios e refere a sua importância em outros desastres como terramotos, onde abundam os problemas de comunicação: “Este é um dispositivo que poderíamos definitivamente utilizar se houver mais incêndios florestais ou desastres ainda maiores”, afirmou.

Este avanço tecnológico para além de permitir um sistema de comunicações menos vulnerável a fatores externos, reduz consideravelmente as falhas, permite o envio de dados em tempo real via conexão internet (tão essencial em incêndios florestais) e permite a geolocalização de cada meio (terrestre e aéreo), de cada equipa e de cada operacional a cada momento, reduzindo os riscos de acidentes.

Sem dúvida, está aqui um exemplo para Portugal apostar em comunicações por via satélite das várias empresas que existem no mercado, ou inclusive investir num sistema público europeu e assim, modernizar a rede comunicações de emergência, tornando-a mais robusta, segura e interoperável, mais eficaz e mais eficiente.

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Fogos Florestais: A solução ao SIRESP? A resposta poderá vir dos céus…
A solução ao SIRESP? A resposta poderá vir dos céus…
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