Depois de cerca de um mês em Terra de Vera Cruz, das paisagens, aromas, matizes, paladares e sons que abundam e diversificam aquele país, na...
Depois de cerca de um mês em Terra de Vera Cruz, das paisagens, aromas, matizes, paladares e sons que abundam e diversificam aquele país, na verdade não sei por onde hei de começar a escrever. Talvez por o Brasil ser muito mais do que um país ‒ é um continente, cada Estado é uma nação onde se fala a língua de Camões ‒, ou talvez porque as semanas foram tão ricas que não fui capaz, ainda, de assimilar tudo o que aprendi, vivi e conheci.
Temo deixar algo por (d)escrever, algo que é tão importante como tudo o demais, pois tudo fez parte do que vivi. Esta viagem marcou-me para sempre, pois permitiu conhecer-me melhor, como ser humano, e voltei a constatar que os limites e os receios existem para serem ultrapassados, bem como que o que se entende por “conforto” não é igual em todas as situações.
Não é fácil deixar a comodidade da casa, o carinho e o amor da família, para entrar naquilo que para mim foi uma aventura rumo ao desconhecido e uma verdadeira aprendizagem. Talvez, mais do que uma aventura, tenha sido parte de um antigo sonho, um desejo realizado.
As últimas mudanças políticas nesse país e os anúncios de desinvestimento nas áreas de investigação deixavam pairar no ar que o projeto apresentado no início de 2018 não viesse a avançar. Contudo, no meio da turbulência política, debaixo de um céu encoberto e maus presságios, eis que uma réstia de luz afastou as nuvens negras. O projeto apresentado obteve luz verde e foi considerado ter interesse para avançar.
Em abril, tinha a certeza de que no final do mês seguinte iniciaríamos o trabalho no Maranhão.
A par deste projeto surgiram outros, não menos importantes, que me levaram a prolongar a minha estadia no Brasil, podendo visitar o Estado de Santa Catarina e o Estado de Mato Grosso. Durante esta estadia, passei pelas 5 macrorregiões do Brasil: Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul, tendo percorrido mais 25 300 km de avião, mais de 1 000 km de carro e umas quantas dezenas a pé.
Foram dias incríveis que procurarei descrever nos posts seguintes, sob o título genérico de “Crónicas do Fogo em Terra de Vera Cruz”.
Temo deixar algo por (d)escrever, algo que é tão importante como tudo o demais, pois tudo fez parte do que vivi. Esta viagem marcou-me para sempre, pois permitiu conhecer-me melhor, como ser humano, e voltei a constatar que os limites e os receios existem para serem ultrapassados, bem como que o que se entende por “conforto” não é igual em todas as situações.
Não é fácil deixar a comodidade da casa, o carinho e o amor da família, para entrar naquilo que para mim foi uma aventura rumo ao desconhecido e uma verdadeira aprendizagem. Talvez, mais do que uma aventura, tenha sido parte de um antigo sonho, um desejo realizado.
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Foto 1 - Meu pai, Manuel de Oliveira, o terceiro a contar da direita (com chapéu) em Angola nos anos 60 |
Tudo começa lá atrás, em criança, ouvindo as histórias do meu pai na África, então colonial. Como qualquer criança, imaginava fazer algo semelhante ao meu pai, embrenhar-me no meio da savana ou da selva, percorrer as extensas picadas, ver um mundo diferente daquele em que habitualmente passo o meu dia-a-dia. Era uma mistura de querer ser como o meu pai, viver algo semelhante ao que ele viveu e descobrir paisagens e modos de vida diferentes. Passado tanto tempo, desde os sonhos de criança, agora a poucos anos de alcançar meio século, o fogo despertou o meu interesse pelos povos que ainda hoje mantêm a chama viva. Esses povos que usam o fogo, também prescrito, ainda que as condições de prescrição sejam mais empíricas e distantes de tabelas, nomogramas e valores obtidos por entediosos métodos e ensaios científicos.
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Foto 2 - Véu de Noiva - Parque Nacional da Chapada dos Guimarães - Mato Grosso (Brasil) |
O meu percurso profissional e académico conduziu-me até à Universidade Federal de Viçosa onde, em 2017, a convite do professor e amigo Fillipe Tamiozzo, diretor do Laboratório de Incêndios Florestais, passei a integrar o Grupo de Pesquisas da Conservação da Natureza e Manejo de Áreas Protegidas, liderado pelo professor Doutor Gumercindo Souza Lima. Desde então, tenho colaborado no desenvolvimento de projetos dedicados ao estudo do fogo nos biomas do Brasil. Felizmente, uma porta abriu-se e graças ao apoio do CNPq (o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, um órgão ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações para incentivo à pesquisa no Brasil) e à colaboração da Universidade Federal do Maranhão, foi possível o financiamento para um projeto de investigação em ecologia, monitoramento e manejo integrado do fogo, onde pude estrear-me como investigador no outro lado do Atlântico (pesquisador no Brasil).
As últimas mudanças políticas nesse país e os anúncios de desinvestimento nas áreas de investigação deixavam pairar no ar que o projeto apresentado no início de 2018 não viesse a avançar. Contudo, no meio da turbulência política, debaixo de um céu encoberto e maus presságios, eis que uma réstia de luz afastou as nuvens negras. O projeto apresentado obteve luz verde e foi considerado ter interesse para avançar.
Em abril, tinha a certeza de que no final do mês seguinte iniciaríamos o trabalho no Maranhão.
Gravura 1 - O roteiro das viagens aéreas, mais de 25 000 km realizados, sem contar os cerca de 1000 km realizados por meio terrestre. |
Foram dias incríveis que procurarei descrever nos posts seguintes, sob o título genérico de “Crónicas do Fogo em Terra de Vera Cruz”.
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