Vem aí a Primeira Onda de Calor de 2018

Elaborado por: Emanuel Oliveira Nas últimas semanas vimos como o Norte da Europa atingia valores extremos, com temperaturas muito acima d...

Elaborado por: Emanuel Oliveira

Nas últimas semanas vimos como o Norte da Europa atingia valores extremos, com temperaturas muito acima do normal para aquelas latitudes tão afastadas do Equador e tão próximas ao Ártico.

No dia 21 de julho a agência aeroespacial americana NASA publicava um artigo fazendo referência ao recorde de temperaturas registadas nos países do Círculo Polar Ártico, destacando-se 14 localidades da Noruega e do Norte da Finlândia com temperaturas de 33 ºC no dia 18 de julho. Devido às condições quentes e secas o risco de incêndio naqueles países aumentou drasticamente e atipicamente. Segundo o Serviço de Gestão de Emergências Copernycus, no dia 20 de julho a Suécia já registava mais de 10 mil hectares de área ardida, 24 vezes superior à área ardida acumulada entre 2008 e 2017.
Imagem 1 - Anomalia da Temperatura  na Superfície Terrestre. Fonte: NASA
Tal como nestes países, em outras regiões do globo, os termómetros dispararam, tais como o Canadá e na Sibéria onde a temperatura atingiu 8 ºC acima do normal da verificada em anteriores.
No dia 20 de julho a agência meteorológica europeia publicava no seu Twitter um mapa com a identificação de anomalias meteorológicas (Extreme Forecast Index - EFI) registadas entre 1 de junho e 18 de julho de 2018, onde se destaca as temperaturas excessivamente elevadas nos países escandinavos e no Reino Unido, Irlanda e França. Pelo contrário, os países ibéricos registavam temperaturas muito baixas para a época, principalmente no sul da Península.
Imagem 2 - Anomalias meteorológicas extremas (EFI). Fonte: ECMWF
No Japão, a cidade de Kumagaya, a norte de Tóquio atingiu no passado dia 23 de julho 41,1 ºC, a temperatura mais alta registada naquele país, derivado de um sistema anticiclónico persistente que dura há mais de 8 dias e, cujas temperaturas têm sido a causa de mais de 40 mortes e afetando milhares de pessoas que foram hospitalizadas com sintomas de insolação.

Segundo a NASA e a Agência Espacial Europeia estas ondas de calor desencadearam diversos grandes incêndios florestais nas regiões remotas do círculo polar ártico com consequências alarmantes. Segundo o meteorologista norte-americano Nicholas Humphrey em entrevista ao jornal espanhol El País, estes grandes incêndios provocaram o degelo no mar Laptev e do permafrost, o que levará a um incremento da libertação de CO2 para atmosfera.

Como pude afirmar na rede social Facebook no dia 22 de julho: «Não pensem que estas temperaturas tão elevadas nos países do círculo polar ártico não vão trazer consequências ao resto do mundo. É o "Efeito Borboleta" onde no planeta ninguém escapa!». Há uma semana que andamos a acompanhar a evolução sinóptica, no entanto sabemos que a dinâmica atmosférica que caracteriza o nosso país deixa-nos muitas vezes na incerteza das previsões.

Contudo, os vários modelos meteorológicos começam a ter cada vez mais uma maior solidez face à aproximação dos eventos atmosféricos previstos há 8 dias atrás, o que apontam para uma mudança repentina no verão que estavamos até agora a viver. Todos os modelos (o que é muitas vezes raro) coincidem para um aumento das temperaturas máximas e mínimas nos próximos dias, a partir do dia 1 de agosto, para todo o território ibérico, podendo-se prolongar por vários dias. O território será afetado por uma intensa advecção de sul, entrando ar muito quente e seco do Norte de África.
Imagem 3 - Carta de 850 hPa dos Modelos ARPEGE, ECMWF, GFS, GEM e JMA para o dia 01 de agosto, coincidindo com a entrada de ar quente sobre o território, cujas temperaturas a cerca de 1450 metros de altura (atmosfera) serão próximas a 30 ºC, o que siginifica que a temperatura à superfície será muito mais elevada, podendo ultrapassar os 45 ºC em algumas regiões da Península.
Muitas zonas da Península Ibérica, principalmente a Sul do Tejo, poderão registar temperaturas máximas superiores a 40 ºC e temperaturas mínimas entre 20 e 25 ºC, por outro lado teremos uma quebra acentuada da humidade relativa do ar para valores que rondarão no dia 2 de agosto 10% em grande parte do território nacional. Ao nível de incêndios, dadas as condições de humidade relativa e temperatura, o vento na região do Algarve apresentará valores superiores a 30 kph, podendo incrementar o risco de incêndios nesta região do país que se encontra dentro do potencial de retorno de grandes incêndios florestais.
Imagem 4 - Temperatura prevista para 2 de agosto segundo os principais modelos meteorológicos.
Imagem 5 - O Modelo ARPEGE descreve-nos para o dia 2 de agosto de 2018 uma quebra na HR para valores inferiores a 10% às 15 horas e ventos intensos na região do Algarve, podendo ultrapassar os 30 kph.
Com certeza, será a primeira onda de calor de 2018 a afetar grande parte do país, o que ainda não sabemos com total certeza neste momento é a sua duração. O modelo GFS aponta para um prolongamento da situação extrema até ao dia 7 de julho. O modelo ECMWF indica temperaturas a 850 hPa que podem ser superiores em 12 ºC no Noroeste Peninsular, o que na superfície terá os seus duros efeitos.
Imagem 6 - Evolução da temperatura a 850 hPa nos próximos dias. Modelo GFS
Imagem 7- Evolução da temperatura anómala a 850 hPa nos próximos dias. Modelo ECMWF HRES 0.1º
Não nos podemos esquecer, que apesar deste verão em Portugal, ser mais frio e mais húmido, na realidade não existiram precipitações significativas. Esta condição anómala, deveu-se sobretudo à deslocalização do anticiclone dos Açores para fora da sua região habitual neste período, permitindo a entrada de ar frio nas camadas altas da atmosfera e interferência das baixas pressões sobre o território, com particular incidência nas regiões do litoral e no Norte do país.
Imagem 8 - Gráfico dos dados de precipitação registados diariamente entre o dia 30 de junho e o 30 de julho na Estação Meteorológica do Monte Aloia - Tui (Galiza). Fonte: MeteoGalicia.
Note-se, em 30 dias a precipitação acumulada foi de 36 mm e os últimos dias registaram valores inferiores a 1 mm, tendo passados 24 dias desde a última precipitação.
Sendo assim, ainda que se registe nos primeiros dias de agosto um tempo mais seco e temperaturas extremas, os seus efeitos ao nível dos incêndios florestais, serão mais determinantes na generalidade do território nacional após alguns dias, caso a situação se mantenha ou não se registe precipitação (tal como se prevê e caso ocorra, poderá ser associada a episódios de trovoada). Isto significa que os primeiros dias serão para "preparar" os combustíveis de 1h, 10h e 100 h que ficarão muito mais suscetíveis ao fogo.

Saliento ainda que os combustíveis finos que predominam nas faixas de gestão de combustível executadas entre março e maio, serão os que se encontrarão mais disponíveis ao fogo, incrementando-se precisamente nessas zonas (junto à rede viária, aglomerados e edificações) o risco de ignição. Obviamente, face a estas condições para os próximos dias, o nível operacional de Alerta deverá elevar-se, não só pelo risco de incêndio mas também pela onda de calor que afectará a saúde pública na população mais vulnerável (crianças e idosos).

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