Relatório de Incêndios ou Julgamentos Públicos

Desenvolvido e postado por: Emanuel de Oliveira Publicado no Blogue dos GTF's do Alto Minho 17/08/2012 Recentemente foram...


Desenvolvido e postado por:
Emanuel de Oliveira
Publicado no Blogue dos GTF's do Alto Minho
17/08/2012

Recentemente foram publicados dois relatórios do Grande Incêndio Florestal de Tavira e de S. Brás de Alportel que teve início em 18 de Julho de 2012 e em apenas 4 dias, dizimou uma área de cerca de 26 500 hectares. Diversas vozes levantam-se hoje questionando quanto ao rigor técnico e imparcialidade dos relatórios elaborados pela Autoridade Nacional da Protecção Civil e pela Liga de Bombeiros Portugueses. Tais comentários confundem-se muitas vezes com desejos obsessivos de julgamentos públicos e de tentativas de “corte de cabeças”, assemelham-se a autênticos treinadores de bancada num jogo de futebol.
Se quisermos ser objectivos, imbuídos de um espirito crítico construtivo e arbitrário, então podemos e devemos analisar cada incêndio a partir de diversos pontos de vista e não concentrarmo-nos exclusivamente no combate. Sendo assim, proponho uma reflexão nas seguintes vertentes que envolvem o incêndio, fazendo um “check list” à semelhança do procedimento dos EUA:

Planeamento Florestal em matéria de DFCI: neste campo, devemos identificar se foram realizadas as acções de defesa estrutural, tais como, as faixas de gestão de combustível, a gestão de pontos estratégicos ou críticos, execução ou manutenção da rede de pontos de água, beneficiação ou execução da rede viária florestal, a criação de mosaicos de combustível, etc..

Planificação da Vigilância Contra Incêndios: neste campo importa identificar se as equipas de vigilância encontravam-se nos locais estratégicos de estacionamento (LEE’s), se procediam a vigilância móvel ou fixa, se a vigilância estava ou não planificada de acordo com o risco de incêndio, tendo em consideração o risco diário de incêndio para a zona em causa (com particular importância para os componentes do Sistema FWI: FFMC, ISI, BUI e FWI), as curvas de flamabilidade de Campbell (CPSL), o número de ocorrências registadas e o uso tradicional do fogo.

Coordenação e Operacionalidade do Combate: por último, neste campo, poderíamos colocar todo o conjunto de recomendações estabelecidas no relatório “Avaliação do Desempenho do Ataque Ampliado a Incêndios Florestais”, publicado em 2008, com base num protocolo da UTAD com a ANPC.

Com isto quero dizer que não há nada a inventar, pois tudo já foi amplamente estudado, identificado, analisado, discutido e redactado, resultante de situações vividas no passado, quer em Portugal quer nos outros países do mundo. Apenas, temos que apelar à objectividade e identificar se se procedeu ou não, quando se procedeu e como se procedeu.

Na análise aos incêndios florestais devemos de proceder de modo semelhante àquilo que a estrutura de combate a incêndios florestais dos EUA elabora na Organização das Operações de Extinção e que denomina de ”Incident Command System”, onde criteriosamente de forma objectiva são identificadas as acções e a missão de cada equipa, de cada elemento presente no Teatro de Operações e em caso de incidente ou acidente permitir identificar a falha. Em Portugal também existe este sistema e, o qual, está devidamente identificado na Directiva Operacional Nacional nº 2 – Dispositivo Especial de Combate a Incêndios Florestais, pelo que em conjunto com as recomendações definidas no relatório de 2008 (supracitado), bastaria identificar onde poderá ter falhado o combate:
  • Terá sido na interpretação do comportamento do fogo e da meteorologia de incêndio?
  • Terá sido na utilização dos meios e no modo como os meios foram empregues?
  • Terá sido na monitorização e coordenação do incêndio?
  • Terá sido falhas no uso de equipamentos ou até na sua ausência?
  • Terá sido na falta de recursos humanos capacitados em análise de incêndios para auxiliar o COS desde o início do incêndio?

Como se pode ver, surgem diversas questões apenas referentes às operações de combate, mas temos que analisar o que está para trás, para o que antecede à ocorrência, isto é, todo o trabalho que diz respeito à prevenção quer estrutural quer à vigilância, pelo que se poderia igualmente identificar possíveis falhas.
Analisar um incêndio destas características implica, como em qualquer análise, partir do geral para o particular. De modo algum devemos de apontar uma falha, sem previamente analisarmos o conjunto de elementos que constituem o ambiente onde se deu o incêndio.

Qualquer incêndio deve merecer uma atenção de forma semelhante e comparativa à avaliação do socorrista que atende uma vítima, primeiro identifica os sinais que lhe permitam proceder devidamente ao socorro, sem trazer maiores lesões à vítima. De igual modo deve-se proceder ao combate ao incêndio florestal e neste caso concreto, à sua análise. Lembrando ainda que as análises e os relatórios de nada valem se não se procederem às recomendações e correcções para que situações semelhantes não voltem a repetir-se ciclicamente.

Recordo que as análises e relatórios são úteis e devem obrigatoriamente ser realizados, não só relativamente ao GIF de Tavira e de S. Brás de Alportel, mas também aos GIF’s da Madeira e a outros incêndios que dizimaram vastas áreas de floresta e destruíram diversas habitações e equipamentos, mas também aquelas ocorrências que sendo menores levaram à perda do mais importante - de vidas dos nossos combatentes - e esses na maioria dos casos caem no esquecimento e ninguém procede a avaliar e a colocar em público a causa do acidente.

Exemplo de Check List para Avaliar o Combate 

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Fogos Florestais: Relatório de Incêndios ou Julgamentos Públicos
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