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sexta-feira, 11 de junho de 2021

Trovoadas I - Como se formam e quais as condições para ocorrerem

 Por: Emanuel de Oliveira

Desenvolvimento de nuvens de trovoada - 10.06.2021 (Alto Minho)

As trovoadas têm assumido um papel destaque pelos estragos causados e acidentes. Nesta altura do ano, no arranque do verão meteorológico, assumem particular importância pelo seu papel nos incêndios florestais como causa de ignição ou como fator de agravamento do comportamento do fogo. Dado o protagonismo que têm merecem uma rúbrica especial, pelo que iniciarei hoje um conjunto de artigos dedicado às trovoadas.

Como se formam as trovoadas e quais as condições necessárias para o seu desenvolvimento?

As trovoadas têm origem num tipo de nuvens denominadas por cumulus (de sigla Cu). Estas nuvens de desenvolvimento vertical, cuja altura da base encontra-se entre 0 e 3 km, têm um formato característico, de blocos isolados ou agrupados, de base branca ou cinza e de topo pouco elevado, assemelhando-se a pequenos pedaços de algodão que cruzam os céus. Formam-se a partir de correntes convectivas associadas a ar instável e, maioritariamente, na baixa troposfera, podendo algumas destas nuvens desenvolverem-se e dar origem a trovoadas. Para que este desenvolvimento ocorra são necessárias determinadas condições atmosféricas: 

  1. Ar instável
  2. Humidade do ar em quantidade suficiente 
  3. Algum mecanismo de disparo para libertar a instabilidade (orografia, aquecimento da superfície terrestre e entrada de ar frio em altitude, entradas de superfícies frontais frias ou quentes, brisas maritímas)

Céu coberto de nuvens tipo cumulus (Cu). Voo sobre o Maranhão (Brasil). 2019

Estes fatores podem estar presente na atmosfera em vários níveis. Numa tarde calorosa e abafada poderão apenas formar-se cúmulos de bom tempo devido a que a instabilidade nas capas baixas da atmosfera é compensada pela estabilidade nas capas altas, impedindo uma forte atividade convectiva, necessária ao desenvolvimento de cumulonimbus (de sigla Cb) – as típicas nuvens de trovoada

Para a formação de condições de tempestade ou trovoada é necessário que o ar se encontre muito instável. As trovoadas formam-se quando o ar quente e húmido se transforma em ar frio. O ar quente junto à superfície terrestre irá subir para as capas mais altas da atmosfera, convertendo-se em ar frio. Este ar quente ao ficar mais frio, faz com que a humidade que transporta, ou seja, o vapor de água, por processo de condensação forme pequenas gotículas. À medida que o vapor de água se condensa para formar um cumulus, o calor latente torna a nuvem mais quente do que o ar que a rodeia no seu exterior. O ar frio com as gotículas de água cada vez mais pesadas e gelo, desce às capas baixas da atmosfera, junto à superfície terrestre, para aquecer, evaporar e novamente subir. 

Cor rosada no topo da nuvem indica a formação de cristais de gelo derivado do arrefecimento do vapor de água. 11.06.2021 (Alto Minho)

Este circuito de subida e descida do ar é denominado por célula de convecção ou célula convectiva. Se este processo ocorre em pequenas quantidades, apenas se formará uma nuvem, mas caso contrário, com grandes quantidades de humidade e de ar quente, existirão condições para a formação de nuvens de trovoada - os cumulonimbus.

Os ventos frios das capas altas da atmosfera atingirão o topo da nuvem para os lados e assim, conferirem o famoso formato de bigorna que carateriza este tipo de nuvem.

As correntes descendentes arrefecem o ar na base da nuvem, pelo que o ar já não é mais quente o suficiente para voltar a subir. Sendo assim, o processo da célula de convecção é interrompido e, sem convecção, o vapor de água não irá condensar e não haverá a libertação de calor latente, terminando a trovoada.

Normalmente, uma trovoada dura entre 15 a 30 minutos após o início, no entanto podem formar-se na mesma zona outras trovoadas. 

Em condições de tempestade severa, as correntes descendentes são tão intensas que quando atingem a superfície do solo, promovem a deslocação do ar quente para cima, carregando de energia as células de convecção. Nestas condições, as gotículas de água e o granizo ganham maiores proporções antes caírem no solo e podendo este tipo de tempo severo durar várias horas, dando origem a ventos intensos, fortes saraivadas com granizo de grandes dimensões e enxurradas.

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