Analisando os dados estatísticos é importante entender como evoluíram os Grandes Incêndios Florestais ao longo destes últimos 15 anos no te...
Analisando os dados estatísticos é importante entender como evoluíram os Grandes Incêndios Florestais ao longo destes últimos 15 anos no território do Alto Minho.
Gráfico 1 - Distribuição do Nº de GIFs por Ano e Classes de Extensão, 1975 - 2013. Fonte/Dados: ICNF (Clicar na imagem para visualizar) |
Os últimos 15 anos coincidem com um importante e necessário incremento dos meios e recursos como forma de resposta para reverter a sua ocorrência. Porém, o esforço foi em vão, tendo em conta que a redução dos GIF's implica uma intervenção a uma escala do consumo potencial de um GIF (intermunicipal), intervindo nos pontos de multiplicação da propagação, na criação de oportunidades ao combate e essencialmente na redução da elevada carga de combustível, mediante a criação de mosaicos com o fim de promover a heterogeneização da paisagem, em vez de uma aposta em pequenas e isoladas intervenções. O trabalho de prevenção obriga a uma implementação transversal de medidas e ações devidamente estruturadas, dimensionadas e de fácil manutenção, onde a complementariedade deverá ser um objetivo a considerar.
Antes de mais, importa entender que um GIF define-se tecnicamente, quando um incêndio apresenta um comportamento de fogo que ultrapassa a capacidade extinção, normalmente apresentando os seguintes critérios:
- Comprimento de chama superior a 3,0 metros;
- Velocidade de propagação superior a 1 - 2 km/hora;
- Atividade de fogo de copas. (UT GRAF, 2011)
Em Portugal, para além destes parâmetros, considera-se como um GIF um incêndio que ultrapasse uma área queimada igual ou superior a 100 hectares. No entanto, em muitos casos de GIF’s no Alto Minho, estes parâmetros técnicos referentes ao comportamento do fogo não se apresentam no incêndio ainda que a área ardida supere o limite que o classifica como GIF. Isto deve-se, por um lado a que a capacidade de extinção não só depende do comportamento do fogo, mas também do número e tipo de meios e recursos existentes para uma resposta mais eficaz e eficiente para a extinção.
Igualmente, não nos podemos esquecer que existe um problema grave de simultaneidade de incêndios que esgota qualquer dispositivo de extinção quando se ultrapassa o limite. Esta situação agrava-se quando se produz uma diminuição dos recursos humanos que sustentam um dispositivo de extinção baseado na disponibilidade do sistema de voluntariado.
Por outro lado identifica-se, com base no seguimento dos Grandes Incêndios Florestais no território, comprovando-se pelos seus perímetros finais, uma cultura do uso do fogo na extinção com o fim de executar queimas ancoradas em caminhos, cujos perímetros são os mesmos de anos anteriores, de outros GIF’s cujas manobras são repetitivas e assumindo o risco de ampliação dos respetivos perímetros. Esta situação resulta de dois aspetos: a) os recursos são insuficientes para garantir a melhor resposta para a extinção, logo o dispositivo encontra-se debaixo da capacidade de extinção; 2) e existe um uso popular do fogo, dificilmente controlável, como recurso de autoproteção de bens que conduz à ampliação dos perímetros e à simultaneidade.
Imagem 1 - GIF de Cabração (1048 ha) - Município de Ponte de Lima. Fogo de superfície com Intensidade baixa a moderada e baixa severidade. Foto: Emanuel Oliveira, 2015 |
Imagem 2 - Os GIFs em 2015 percorreram quase de forma cirurgica antigos perímetros de GIF's ocorridos em 2005 e 2010, onde encontraram um mesmo modelo de combustível, uma paisagem homogénea. |
A melhoria dos conhecimentos técnicos, dos meios e da organização operacional no combate aos incêndios florestais não produziu efeitos para evitar a propagação e a frequência dos grandes incêndios florestais. Sendo assim é importante que a sociedade se encontre informada sobre o risco, ainda que não signifique que saiba defender-se frente à ocorrência de um incêndio e, muito menos, frente a um GIF.
O problema dos GIF’s é que o paradigma dos incêndios florestais mudou ao mesmo ritmo que as mudanças na dinâmica espacial e com os episódios repentinos resultantes da acelerada mudança climática. Fazer frente aos GIF’s obrigará a uma mudança do paradigma da prevenção e do combate.
Mais Informação:
Oliveira, Emanuel; 2015. "La Prevención a la Escala del Paisaje para hacer frente a los Grandes Incendios Forestales. Análisis en el Alto Minho. Portugal"; Universidad Politécnica de Madrid
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