Após ler detalhadamente o Relatório Provisório de Incêndios Florestais, de 01 de janeiro a 30 de setembro, elaborado pelo Instituto de Conse...
Após ler detalhadamente o Relatório Provisório de Incêndios Florestais, de 01 de janeiro a 30 de setembro, elaborado pelo Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas, onde em referência a Análise por Distrito se descreve o seguinte:
«O maior número de reacendimentos regista-se no distrito de Viana do Castelo, com 314 casos (cerca de 27% do total), seguido do Porto com 285 reacendimentos (aproximadamente 25% do total).»
Como técnico de DFCI com responsabilidades num Município do Alto Minho e como “alto minhoto” fiquei profundamente preocupado com a realidade que nos afecta, pelo que procurei analisar detalhadamente os dados e o impacto no território derivado de uma tarefa que exige o mais elevado profissionalismo e responsabilidade - o Rescaldo.
Analisados os dados daquele período, o distrito de Viana do Castelo apresentou 1877 ocorrências que conduziram a uma área ardida de cerca 12 207 hectares. O pior destes dados é que da totalidade das ocorrências 409 tiveram origem em reacendimentos que conduziram a 2 368 hectares de área ardida, o que corresponde a cerca de 22% das ocorrências.
Se quisermos ser mais rigorosos na análise com base nos dados ainda provisórios, podemos concluir das 409 ocorrências com origem em reacendimentos (já confirmados):
Note-se que 2 destes reacendimentos, provocaram cada um deles, GIF’s com mais de 600 hectares no dia 2 de Setembro.
Questiona-se pois qual ou quais as razões dos reacendimentos?
A primeira resposta que nos vem à cabeça é rescaldos mal executados!
Realmente, não haveriam tantos reacendimentos se o rescaldo fosse cumprido com rigor. No entanto, atrevo-me a dizer que os rescaldos não são executados com o rigor que lhe está imposto por diversas razões:
Aconselha-se a ler os seguintes artigos:
Manual Operacional do Rescaldo
Redefinição de Reacendimento
«O maior número de reacendimentos regista-se no distrito de Viana do Castelo, com 314 casos (cerca de 27% do total), seguido do Porto com 285 reacendimentos (aproximadamente 25% do total).»
Incêndio florestal no Alto Minho, com formação de pirocumulus |
Analisados os dados daquele período, o distrito de Viana do Castelo apresentou 1877 ocorrências que conduziram a uma área ardida de cerca 12 207 hectares. O pior destes dados é que da totalidade das ocorrências 409 tiveram origem em reacendimentos que conduziram a 2 368 hectares de área ardida, o que corresponde a cerca de 22% das ocorrências.
Se quisermos ser mais rigorosos na análise com base nos dados ainda provisórios, podemos concluir das 409 ocorrências com origem em reacendimentos (já confirmados):
- 336 reacendimentos originaram incêndios inferiores a 1 hectare, totalizando 38 hectares de área ardida;
- 55 reacendimentos originaram incêndios superiores a 1 hectare e inferiores a 10 hectares, totalizando cerca de 152 hectares de área ardida;
- 13 reacendimentos originaram incêndios superiores a 10 hectares e inferiores a 100 hectares, totalizando cerca de 466 hectares de área ardida.
- 5 reacendimentos originaram Grandes Incêndios Florestais, ou seja superiores a 100 hectares e totalizando cerca de 1 713 hectares de área ardida.
Note-se que 2 destes reacendimentos, provocaram cada um deles, GIF’s com mais de 600 hectares no dia 2 de Setembro.
Combatente em repouso após mais de 24 horas de combate |
A primeira resposta que nos vem à cabeça é rescaldos mal executados!
Realmente, não haveriam tantos reacendimentos se o rescaldo fosse cumprido com rigor. No entanto, atrevo-me a dizer que os rescaldos não são executados com o rigor que lhe está imposto por diversas razões:
- O rescaldo exige equipas profissionais, experientes no uso de ferramentas e “frescas”, isto é descansadas. É impossível exigir um rescaldo rigoroso que reduza o potencial de reacendimentos a equipas que se encontram em combate há mais das 12 horas legais, ou nas piores condições há mais de 24 horas.
- Se as equipas de sapadores florestais constituem essas equipas profissionais, então não podem ser colocadas ao mesmo nível de combate num incêndio, exigindo o mesmo que se exige a quem tem a exclusividade da competência do combate. Caso ocorra, estas equipas não estarão em condições para assegurar a exigente operação de rescaldo.
- Elevada simultaneidade das ocorrências no Alto Minho não permitem a melhor operacionalização das diferentes unidades e o seu necessário repouso e descanso obrigatório.
- A falta de meios humanos no território tem implicações sérias quando ocorrem episódios de simultaneidade, esgotando-se o dispositivo em poucos dias de combate.
- A falta de formação, de experiência e de vontade no uso de ferramentas, também se reflecte no uso excessivo de água como solução generalizada e banal para a operação de rescaldo.
Equipa de sapadores em combate |
É necessário repensar a forma de atuação das equipas de sapadores, pois estas equipas profissionais estão mais capacitadas fisicamente e tecnicamente para o apoio ao combate, exercendo as suas funções na primeira intervenção e obviamente no rescaldo. Contudo é habitual vê-las a serem accionadas como se tratasse de mais uma equipa para o ataque directo às chamas em incêndios de diversas horas, não se encontrando minimamente descansadas para a operação final e longa de rescaldo. Por outro lado, à semelhança das antigas brigadas florestais, com vista a aumentar a eficácia e a eficiência, importa que as equipas de sapadores se encontrem organizadas em brigadas compostas por 3 a 4 equipas, isto é entre 15 a 20 elementos, garantindo um trabalho mais dinâmico e rigoroso.
Aconselha-se a ler os seguintes artigos:
Manual Operacional do Rescaldo
Redefinição de Reacendimento
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