O fator mais determinante para a ocorrência de Grandes Incêndios Florestais é sem dúvida, o incremento do abandono das atividades tradiciona...
O fator mais determinante para a ocorrência de Grandes Incêndios Florestais é sem dúvida, o incremento do abandono das atividades tradicionais de agricultura e pastorícia, principalmente nos territórios de montanha, associado ao despovoamento e ao envelhecimento das comunidades rurais.
O Alto Minho é um território físico, sociocultural e económico cujas mudanças na dinâmica espacial e climática, prepararam os espaços para a propagação de GIF’s.
A análise espacial e estatística a diversos níveis sobre o território permitiu identificar e individualizar alguns fatores que favorecem a ocorrência e a propagação dos GIF’s:
Por outro lado não se pode ignorar o papel do uso tradicional do fogo pelas comunidades rurais do Alto Minho, muitas vezes não compreendido e muito criticado. O fogo jogou e ainda joga uma importante função como ferramenta da atividade tradicional agrícola e pastoril.
Desde o ano 2006 que se desenvolveram e se publicaram ferramentas legislativas com o fim de proibir as queimas pastoris, condicionando-as ao máximo, exigindo a presença de um técnico credenciado em fogo controlado ou na sua falta a presença de uma equipa de sapadores florestais ou bombeiros. Esta importante limitação traduziu-se por um lado no uso do fogo de forma ilegal e abandono da queima realizada e, por outro lado no abandono do recurso – fogo - como ferramenta de gestão da carga de combustível e renovação de pastagens. É necessário destacar que na generalidade do território, a atividade rural (agricultura, pecuária extensiva e pastoril) permitiu durante inúmeras gerações moldar a paisagem e compartimentar os espaços florestais e o fogo constituiu uma ferramenta de grande utilidade.
Para termos ideia da dimensão deste aspeto tão enraizado na cultura das comunidades locais, transcreve-se parte de um texto do reputado médico, botânico e naturalista alemão Heinrich Friedrich Link que acompanhado do Conde Hoffmansegg, visitou a região em 1798 e deixou no seu livro, o testemunho sobre o uso do fogo na região montanhosa do território do Minho:
«Por causa da quantidade de bichos, de cinco em cinco anos é queimado o mato, conseguindo-se assim ao mesmo tempo novo alimento para o gado, embora se diga sempre que é pelo primeiro motivo que isso se faz. Esta queima colocou-me algumas vezes em grandes embaraços. Perto da Portela do Homem, um patife da Galiza tinha posto fogo ao matagal seco à volta do caminho, por todo o lado se viam subir as chamas e o fumo e, no vale estreito rodeado de penhascos íngremes, não havia qualquer saída. Finalmente conseguimos alcançar com esforço o rio Homem e esperávamos escondermo-nos no rio, mas felizmente o vento estava muito calmo, o fogo não se propagou muito e em breve estava completamente extinto.»
Sendo assim constata-se que a cultura atual do fogo não é algo de hoje, pelo contrário encontra-se enraizada desde tempos imemoriais como mencionado. Em consequência do uso inadequado do fogo por parte das populações cada vez mais urbanas e pouco conhecedoras do uso ou a falta de uso como outrora, está na origem dos Grandes Incêndios Florestais que posicionam o Alto Minho como uma das regiões com maior número de ocorrências de origem antrópica da Europa Ocidental.
As últimas mudanças no meio rural e a limitação do uso tradicional do fogo pastoril sem alternativas, a política de extinção total do fogo na paisagem, a extinção dos incêndios de baixa intensidade fora de perigo, conduzem à redução do conceito de mosaicos para dar lugar à formação de extensas massas homogéneas de combustível e à formação de corredores contínuos de combustível, unindo o espaço florestal ao agrícola (assilvestrado) e ao espaço urbano, através da elevada acumulação de combustíveis que mais tarde, na presença de um incêndio, incrementarão a intensidade, severidade e velocidade de propagação do fogo, criando zonas de alto risco e de grande complexidade nos trabalhos de extinção.
Se os GIF’s recorrentes conduzem à homogeneização da paisagem ao nível de modelos de combustível, importa então proceder à sua heterogeneização e a queima prescrita/fogo controlado assume aqui um papel essencial como as queimas pastoris de outros tempos. Ou seja, ao nível preventivo temos que reduzir os efeitos dos fatores que potenciam e alimentam os GIF's, o que por sua vez implica uma atuação à escala da paisagem.
Oliveira, Emanuel; 2015. "La Prevención a la Escala del Paisaje para hacer frente a los Grandes Incendios Forestales. Análisis en el Alto Minho. Portugal"; Universidad Politécnica de Madrid
O Alto Minho é um território físico, sociocultural e económico cujas mudanças na dinâmica espacial e climática, prepararam os espaços para a propagação de GIF’s.
A análise espacial e estatística a diversos níveis sobre o território permitiu identificar e individualizar alguns fatores que favorecem a ocorrência e a propagação dos GIF’s:
- O relevo e as condições fisiográficas que caracterizam o território do Alto Minho, muito recortado com declives muito acentuados, além da forte influência dos principais interflúvios, produzem incêndios topográficos, o que constitui uma informação fundamental na hora de planificar ações estruturais de silvicultura preventiva sobre o território.
- Geralmente, nas zonas circundantes aos lugares povoados, encontram-se propriedades florestais e na grande maioria em estado de abandono e assilvestradas, onde abunda uma grande densidade e carga de combustível de sub-bosque arbustivo. Esta situação cria condições complexas nas zonas de interface urbano-florestal e a concentração e investimento de meios e recursos para a proteção de bens e pessoas, o que conduz a situações de propagação livre de um incêndio que por vezes se estende no espaço florestal com uma oposição e combate reduzido.
- A existência de extensas áreas contínuas de matos, confinantes com formações de pinhal com sub-bosque arbustivo tipicamente atlântico, onde predomina o tojo (Ulex europaeus), bem como a existência de massas de pinhal jovem excessivamente densas, são o resultado da homogeneização provocada por GIF’s precedentes.
- A presença e expansão de espécies exóticas pirófitas resultante da mesma ação de homogeneização, assim como o espetacular aumento da arborização de Eucalyptus globulus nos últimos 10 anos, ocupando espaços de transição entre a área urbana e a floresta – Zonas de Interface Urbano-Florestal – constituem num futuro próximo um fator adicional de risco complexo, uma vez que ocorrendo um incêndio este tipo de combustível gera fogos com comportamentos intensos, rápidos e de propagação por focos secundários a longas distâncias, principalmente quando se encontram associados a um relevo montanhoso e com a influência de ventos de subsidência.
Por outro lado não se pode ignorar o papel do uso tradicional do fogo pelas comunidades rurais do Alto Minho, muitas vezes não compreendido e muito criticado. O fogo jogou e ainda joga uma importante função como ferramenta da atividade tradicional agrícola e pastoril.
Desde o ano 2006 que se desenvolveram e se publicaram ferramentas legislativas com o fim de proibir as queimas pastoris, condicionando-as ao máximo, exigindo a presença de um técnico credenciado em fogo controlado ou na sua falta a presença de uma equipa de sapadores florestais ou bombeiros. Esta importante limitação traduziu-se por um lado no uso do fogo de forma ilegal e abandono da queima realizada e, por outro lado no abandono do recurso – fogo - como ferramenta de gestão da carga de combustível e renovação de pastagens. É necessário destacar que na generalidade do território, a atividade rural (agricultura, pecuária extensiva e pastoril) permitiu durante inúmeras gerações moldar a paisagem e compartimentar os espaços florestais e o fogo constituiu uma ferramenta de grande utilidade.
Heinrich Friedrich Link |
«Por causa da quantidade de bichos, de cinco em cinco anos é queimado o mato, conseguindo-se assim ao mesmo tempo novo alimento para o gado, embora se diga sempre que é pelo primeiro motivo que isso se faz. Esta queima colocou-me algumas vezes em grandes embaraços. Perto da Portela do Homem, um patife da Galiza tinha posto fogo ao matagal seco à volta do caminho, por todo o lado se viam subir as chamas e o fumo e, no vale estreito rodeado de penhascos íngremes, não havia qualquer saída. Finalmente conseguimos alcançar com esforço o rio Homem e esperávamos escondermo-nos no rio, mas felizmente o vento estava muito calmo, o fogo não se propagou muito e em breve estava completamente extinto.»
«Notas de uma viagem a Portugal e através de França e Espanha»; Link, 2005
Sendo assim constata-se que a cultura atual do fogo não é algo de hoje, pelo contrário encontra-se enraizada desde tempos imemoriais como mencionado. Em consequência do uso inadequado do fogo por parte das populações cada vez mais urbanas e pouco conhecedoras do uso ou a falta de uso como outrora, está na origem dos Grandes Incêndios Florestais que posicionam o Alto Minho como uma das regiões com maior número de ocorrências de origem antrópica da Europa Ocidental.
Perda de Cobertura Florestal /Forest Cover Loss - 2000 - 2014. Fonte: Global Forest Change |
Se os GIF’s recorrentes conduzem à homogeneização da paisagem ao nível de modelos de combustível, importa então proceder à sua heterogeneização e a queima prescrita/fogo controlado assume aqui um papel essencial como as queimas pastoris de outros tempos. Ou seja, ao nível preventivo temos que reduzir os efeitos dos fatores que potenciam e alimentam os GIF's, o que por sua vez implica uma atuação à escala da paisagem.
Mais Informação:
Oliveira, Emanuel; 2015. "La Prevención a la Escala del Paisaje para hacer frente a los Grandes Incendios Forestales. Análisis en el Alto Minho. Portugal"; Universidad Politécnica de Madrid
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